Animais da terra

Como se um fio se tivesse partido
em duas ilhas enroscadas em caracol,
o tempo ergue o seu império com o visco
que alastra pelo solo. E se nasce uma árvore,
é pela resina que a morte se infiltra
na candura dos animais, na sua sombra.
Eles ignoram que as antenas do caracol
prevêem cada naufrágio antes do nevoeiro
sobrevoar as ilhas e morrem com os olhos,
o corpo ainda a contorcer-se nos ramos.
Os animais vêem para dentro.
Vivem até ao último coágulo e depois a seiva
da árvore esbanja-se sob o manto da terra
a animar as partículas ínfimas em que se tornaram.
As almas descem. É por isso que o mundo não acaba.