O mar ergue - se até aos cimos

Para Ghjacumu Thiers e Rosa Alice Branco, que estavam lá

 

O mar ergue-se até aos cimos
e uma vez vi-o estendido de si até às ilhas,
descendo pelos bosques, escondido nas nuvens;
a sua luz caminha pelas praças
com os passos ávidos de pedras e olhares.
Sento-me numa varanda sobre a Marina
porque quero ser esta hora que se alonga
e que os meus olhos se afastem na noite.

Náufragos,
agarramo-nos à ferida desta gente que fomos
e os dias entregam-nos à vezes,
talvez num gesto cruel, talvez de compaixão,
o rosto dos camponeses
que em tempos possuímos,
que gostaríamos que nos possuíssem.

Sangramos de memórias,
sentimos o gelo do tempo nas nossas mãos
e o coração inunda-se de lágrimas da terra.