Primeira variação sobre Goldbeat de Hugo Branco

TURCHINU MAIO 2011

Un puema di Rosa Alice BRANCO

Os teus dedos batem nas teclas sem parar. Não sentes como deixas a porta aberta, a pasta no chão, a música no ar. As notas brincam docemente e explodem no perímetro urbano da sala. A velocidade dos teus dedos modificou os circuitos cerebrais, o cerebelo cresce a 800 notas por minuto e o meu nas teclas do computador bate a uma frequência indigna dos teus dedos. Estás em parte alguma, o teu ouvido inteiro é a bicha do autocarro que vai para o paraíso na Sexta à tarde quando acaba o expediente enfim fim de semana, As células no ouvido íntimo movem-se como 3000 pestanas entre o sono e a vontade de vigília: sim, tocas entre o que te resiste e a velocidade da luz: as notas são apenas energia e nem preciso de uma ressonância para ver os teus neurónios activados com as notas suspensas no tecto, vibrando nas as cordas do coração com que te ouço. Ela entra agora no poema, pousa um beijo suave no teu pescoço e o beijo parte em velocidade supersónica até ao hipocampo. A amígdala cerebral responde que não tarda muito para estarem enroladinhos na cama. Mais um beijo antes de voltar à leitura silenciosa, com não sei quantos mais neurónios activados. Ela entra na nudez do teu quarto e as notas apressam-se a aquecer o branco dos lençóis. A seguir és tu que entras no quarto, em notas doces e agudas que se interceptam, se conjugam, se prolongam, e eu continuo a escrever este poema, o meu hipocampo adora chocolate, e pouco a pouco a música dos versos enche esta página do ecrã.