Mar pelas entranhas

Então foi isso que nos aconteceu,
um café esfriando até ao fim do fim
dos intestinos. O açúcar insolúvel
como uma equação que ainda não resolvemos
enquanto a cidade esbanja cores na tela
como se estivéssemos emparedados no sol.
Devia ser inverno como da outra vez,
as mãos apertadas no teu bolso
por onde entrávamos quando amanhecia.
Havia uma varanda que dava para dentro,
um pijama precipitado no chão e um tilintar
de moedas a imitar-nos o riso. Adormecemos
já tarde e no outro dia uma explosão de mar
entrou pelo ecrã e mesmo os vivos morreram
com os intestinos inundados de café.