Versione :
Purtughese

Rosa Alice Branco aux Journées de la Poésie Méditerranéenne 2004

À Rosa Alice i lettori di InterRomania cunnoscenu benissimu, ci hà rigalatu sti dui puemi per l’edizione 2004. Una racolta di i so puemi hè in cor’ di traduzzione in corsu. Truverà u so bellu postu in a cullana “E Cunchiglie” di l’edizione ALBIANA, partenariu di u CCU pè parechje edizione.

1.
Sentados na relva, os meus cabelos nas tuas mãos
anelavam dedos de silêncio
e estar assim nunca foi tanto e te amei mais.
Gostava de saber porque estavam húmidos os olhos
dos patos. Talvez soubessem que os ossos pesam menos
que o sonho de voar. Os cisnes escondem todo o drama
da existência no pescoço. Desconfia dos cisnes, meu amor,
que eu tenho asas e deslizo sobre ti como uma ave partida
em tu e eu. Mas com o sol da tarde e a minha cabeça
deitada em de ti e tu inteiro no colo que era meu
a realidade a pino entrou no quarto nu (o corpo deles)
e apeou-se em nós para colher abrigo.
Mas ela pedia com o olhar e com palavras
e nós sabíamos tudo: quanto queríamos sofrer
e de que dor (se riem eles) tirar todo o prazer
e logo o dar. Talvez haja suor nos olhos dos patos,
e o teu sal a temperar-me a carne, a forçar
ervas aromáticas com os dedos lambuzados
de saliva nos meus olhos. E ficava a ver-te
quando tremias de calor ou cobria-te mais
dentro da boca. Descalça, sobre as uvas de antes,
os meus pés dardejavam a fermentação do vinho
que tingia a roupa. Ao rubro dentro do vestido.
Realidade suculenta a dança. É assim que engano a lei
da gravidade com os ossos de ave a resistir ao peso,
e vivo ao rés do solo onde te encontro no festim do riso.
Lá fora a relva está chovida. Sacudo as asas para te voar.

2.
Uma vela ao fundo. Ou deverei dizer os pés
rasando o solo. As mãos como pratos de balança
pesando a lividez do ar que nada pesa, a estante
rigorosa apunhalando os livros que te sangram.
Digo os pés a desfolharem a dança e sei que minto,
minto por excesso: a geometria da casa, o não poder
dizer-te a exactidão do dorso na face do vidro,
o riso roçado pela língua no veio da madeira.
Vê como as palavras balbuciam e as letras se apagam
na gota de água que alastra o gemido pela pedra,
na simetria incompleta do pente com que te esbanjas
na terra da cama já não feita. Casa exacta antes da vela
(oscilam eles) desafiando as leis do vento. Não do ar.
Somos respirados pelo movimento, pela tempestade que
devasta o branco. Só um prato desmede ainda o silêncio
e eu não quero nada. Apenas esta nudez que treme na vela
e encandeia o riso como se lutássemos para repartir o pão
na sabedoria de não termos fome. Da boca ao ventre,
e mesmo aos intestinos, direi que a matéria é a ilusão
dos lábios assanhados de doçura. E sinto (como neles)
o luxo de nada temer que não tenhamos: a mão ao espelho
baço de suor velado pela luz da vela. O poema oscila
como a chama. Precárias todas as vogais e cada uma. 
O grito, só ele te diria. O que desntranhámos em redor do fogo
antes de ser escrito o tempo e cifrado o espaço. A vela
desprende-se do fundo. Queima por dentro dos pulmões
a hora clara e eu flutuo a rua que me tropeça para a sua morte.
Mas vou subindo as escadas da alegria e dói-me apenas tudo
o que as palavras te roubam: a falta que sobra no poema.